Como Plantar Uma Floresta Tropical De Mata Atlântica
REFLORESTAMENTO COM ESPÉCIES TROPICAIS BRASILEIRAS:
Re-introduzir uma floresta numa área desmatada é mais simples do que se imagina, basta copiar os ensinamentos da natureza utilizando o Sistema de Sucessão Secundária e administrar o processo todo com atenção e dedicação. O Parque Nacional da Tijuca com 3.300 ha (33.000.000 m2), considerada a maior floresta urbana do mundo foi inteiramente reflorestada no século 19 com a mão de obra de pouco mais de 30 pessoas. Desde a Floresta da Tijuca em 1870, vários projetos de reflorestamento tem sido extremamente bem sucedidos. Milhões e milhões de árvores já foram plantadas, cobrindo vários alqueires interligados por corredores de vegetação, re-introduzindo florestas e ecossistemas. Ao mesmo tempo, a Mata Atlântica tem um poder de regeneração muito rápido, contando com inúmeros polinizadores, como aves, insetos e mamíferos. Só é preciso um empurrãozinho.
SISTEMA DE SUCESSÃO SECUNDÁRIA:
O Sistema de Sucessão Secundária é uma técnica que foi desenvolvida para facilitar o processo de plantio de uma floresta utilizando diversas espécies diferentes de famílias diferentes de árvores. Esse Sistema, nada mais é do que uma forma de copiar a maneira pela qual a própria natureza age na recomposição natural de uma floresta, em que as espécies Pioneiras se estabelecem primeiro, seguidas das Tardias, que muitas vezes crescem na sombra das Pioneiras, viabilizando as Climáxicas. Não existem divisões precisas entre as classificações. Pioneiras e Secundárias Iniciais se confundem dependendo das condições do solo e de clima e muitas espécies podem variar de categoria.
PIONEIRAS:
Numa floresta tropical, quando a cobertura florestal é inteiramente removida, o solo perde seus nutrientes rapidamente com as chuvas e a floresta não tem mais a capacidade de se regenerar. Existem espécies de árvores denominadas Pioneiras que se estabelecem naturalmente nessas áreas de solo empobrecido desprovido de sua cobertura natural e de sombra. Essas Pioneiras se caracterizam por crescimento rápido madeira macia frutificação precoce e vida curta. Elas são chamadas também de sombreadoras porque ajudam na preparação do campo para que as espécies tardias possam crescer em suas sombras. As sombreadoras ajudam também a eliminar o capim que precisa de muito sol para florir e frutificar. Para que haja uma condição de sombreamento rápida é muito importante que as mudas sejam plantadas muito próximas umas das outras com espaçamento de 1.5m a 2.5m. Dentre todas as espécies, as da família Leguminosae são muito importantes, porque elas tem a capacidade de fixar o nitrogênio no solo por suas raízes, melhorando assim as condições do terreno para todas as outras espécies de outras famílias plantadas na mesma área. Portanto é importante dar preferência as Leguminosae, principalmente no início do plantio quando o solo ainda está muito pobre. As Leguminosae são: Leguminosae Papilionoideae (Leg. Pap.), Leguminosae Mimosoideae (Leg. Mim.), e Leguminosae Caesalpinoideae (Leg. Caes.)
SECUNDÁRIAS INICIAIS e SECUNDÁRIAS TARDIAS:
As Secundárias são árvores de crescimento mais lento, com madeira em geral mais dura, embora algumas possam crescer bastante rápido dependendo das condições do clima e do solo. Em tese, as Secundárias crescem na sombra das Pioneiras, e eventualmente ultrapassam as Pioneiras em altura. As Secundárias são divididas em duas categorias, Secundárias Iniciais e Secundárias Tardias, e são as espécies que chamam a atenção na paisagem com florações magníficas, como os ipês, jacarandás, sapucaias, quaresmeiras, angicos, e a maioria das palmeiras que graciosamente embelezam as florestas, alimentam a fauna, e também algumas das árvores que produzem madeira de excelente qualidade.
CLIMAXICAS:
As Clímaxicas são espécies de crescimento bastante lento com madeira muito dura e vida muito longa. Essas árvores são as espécies mais raras do fundo de vales, algumas das quais em perigo de extinção na Mata Atlântica, como a canela (Ocotea odorifera/catharinensis), ou a peroba-de-Campos (Paratecoma peroba), muitas conhecidas por gerar as melhores madeiras do mundo. As Clímax não precisam ser plantadas no início do projeto, mas sim algum tempo depois quando houver um sombreamento bom e o solo recuperado. Uma vez que a área outrora desmatada é naturalmente recomposta, a tendência é para as Pioneiras e Secundárias Iniciais ‘migrarem’ para as regiões mais ensolaradas nas matas ciliares, ou mata de galeria, nas bordas da floresta e beiras de rios, ajudando na expansão, e no crescimento da floresta. As matas ciliares compostas muitas vezes de Pioneiras e Secundárias Iniciais expandem a floresta em seus limites, facilitando o crescimento de todas as outras árvores em sua sombra.
MAPEAMENTO:
O mapeamento não precisa ser necessariamente preciso ou muito científico e pode ser um simples desenho da área vista de cima. Por mais informal que seja, um mapa pode ser importante para se fazer anotações sobre mudanças de solo, fertilização, e ser útil durante o período de manutenção. Pode-se usar também aerofotografias ou mapas de altimetria para um mapeamento mais sofisticado se houver acesso à esses dados dependendo do tamanho e complexidade do terreno.
EXAME DE SOLO, EMBRAPA / EMATER (Opcional):
Coletar amostras do solo em duas diferentes profundidades: 0 a 20 cm e 20 a 40 cm separando-os uns dos outros. Use uma cavadeira pondo as amostras de solo num saco de aniagem. Colha amostras de toda a área numa distância de 7m a 10m entre uma e outra amostra, depositando todas a amostras no mesmo saco sempre separando as de 0 a 20 cm das de 20 a 40 cm. Quanto mais completa a amostragem, mais eficiente será o resultado. Misture quanto material for necessário; 20 quilos se preciso. Se o solo apresentar diferenças substanciais entre áreas, identifique as áreas e separe as amostras sempre identificando as profundidades. Misture muito bem a terra em cada saco e separe uma porção de mais ou menos meio quilo de cada saco, identificando sempre a de 0 a 20 cm e a de 20 a 40 cm, sempre anotando as áreas que quiser examinar separadamente. Leve as amostras para a EMBRAPA de sua cidade ou estado e depois consulte um técnico da EMATER para sugerir o tipo de fertilização e equilíbrio químico do solo.
MUDAS:
A Mata Atlântica tem a maior variedade de espécies de árvores no mundo, incluindo a Floresta Amazônica. Variedade de árvores, e não plantas em geral. Mudas e sementes de espécies nativas da Mata Atlântica podem ser adquiridas por preços relativamente baixos em viveiros de plantas ou universidades onde existe um currículo de agronomia ou engenharia florestal, e podem ser encontradas pesquisando na internet. Abaixo a lista de espécies de árvores nativas plantadas no Projeto Mil Folhas durante os últimos vinte e dois anos. O item Página, é para identificação de muitas espécies de árvores nativas da Mata Atlântica, no livro ÁRVORES BRASILEIRAS Vol. 1 e 2 (H. Lorenzi / Plantarum http://www.plantarum.com.br) que é uma excelente ferramenta de aprendizado e um ótimo manual para identificação das diferentes espécies por forma geral da planta, casca, folhas, flores , frutos e sementes assim como outras características. Porém, de acordo com o saudoso prof. Paulo Kageyama, talvez o maior expert em assuntos da Mata Atlântica, os dados de Sucessão Secundária nesse livro são imprecisos.
LISTA DA MAIORIA DAS ÁRVORES PLANTADAS NO PROJETO MIL FOLHAS
PRODUÇÃO DE MUDAS EM VIVEIRO OU SEMENTEIRA:
Coletar sementes para criação de mudas barateia muito o processo mas algumas mudas só estarão prontas para o plantio em alguns meses ou um ano, ou seja, as mudas que vingarem no fim do verão só devem ser plantadas no início verão seguinte. Sementes podem ser plantadas em viveiros o ano todo, e quanto mais rápido a semente for plantada à partir da coleta, maiores as chances de germinação. As sementes podem ser coletadas quando caírem no solo, ou retirada dos frutos nos galhos das árvores, mas o fruto precisa estar maduro. Algumas sementes com a superfície muito brilhante como um verniz devem ser escarificadas, lixadas até ficarem opacas, o que facilita muito na germinação. Uma forma eficiente de escarificação, é com uma lata de leite em pó por exemplo, em que se coloca uma lixa por dentro ao longo da parede, com a lixa virada para o centro da lata, e onde se coloca as sementes. Tampa-se a lata e sacode-se ela em movimentos circulares por alguns minutos até que as sementes percam o brilho. Não exagere.
Existem muitas opções para criar mudas como os saquinhos de plástico ou bandejas de isopor. Os saquinhos confeccionados de um plástico maleável preto e vem dobrado em maços de 20 ou mais. Um bom tamanho é de 18 x 30: 18 cm de largura e 30 cm de altura. Outras opções são as bandejas de isopor ou polietileno, a de 72 células e mais ou menos 12 cm de espessura (para cultivo de cítricas) funciona bem para a maioria das sementes de árvores. Pode-se usar qualquer recipiente, como garrafas PET cortadas e furadas embaixo, caixas de leite, ou suco Tetrapak, o importante é furar embaixo para o escoamento da água. As técnicas de plantio de sementes são as vezes ser complicadas, mas para a maioria das Pioneiras, e Secundárias, basta cobrir a semente com 3 a 5 mm de substrato, e molhar sempre sem encharcar numa área fresca e sombreada.
Assim que as plantas emergirem, e alcançarem um tamanho de mais ou menos de 5 a 6 centímetros, pode-se muda-las para uma área semi-sombreada que pode ser uma cobertura de 50% Sombrite, ou Aluminel 50% (uma tela prateada que reduz a incidência solar e o calor com 3m larg.) e alguns meses depois coloca-las numa área de sol normal de acordo com as condições que a planta encontrará na área de plantio para já ir se aclimatizando com o sol e as condições do campo. É importantíssimo molhar as mudas diariamente, no começo, e em freqüência um pouco menor depois se estiverem em saquinhos com uma quantidade boa de terra. Não se deve molhar as mudas demais, principalmente logo antes de serem plantadas para que elas se acostumem com as dificuldades que encontrarão depois de plantadas, nem se deve fertilizar demais o substrato, para que as mudas não sintam falta dos nutrientes, uma vez que plantadas no solo. Se as mudas estiverem em bandejas de isopor, é importante molhar com mais frequência, porque a quantidade de terra é menor nas células das bandejas do que nos saquinhos.
Se houver uma verba generosa, pode-se adquirir o Tubete, que é reciclável, e simplifica o todo o processo bastante, eliminando a mudança da sementeira para o saquinho. O Tubete é como uma ampola de plástico com um furo no fundo, onde se enche com substrato e coloca-se a semente como na sementeira. O processo de emergência e crescimento ocorre todo ali, e os Tubetes são transportados numa bandeja própria de 54 ou 96 células, diretamente para o local de plantio, e depois reusados indefinidamente. O Tubete é muito mais prático porém mais caro. Existe também uma técnica chamada de rocambole, usada com os Tubetes. O truque é extrair todas as mudas dos Tubetes em seus torrões, e alinhar até 40 em cima de uma tira de plástico de obra (chamada de lona) preta da largura dos torrões (20 cm) e enrolar os Tubete com a folha de plástico como se fosse um rocambole na beira de uma mesa com os torrões na mesa e as folhas para fora, prendendo o final da tira com barbante ou fita adesiva, o que compacta o volume das mudas, podendo-se levar os rocamboles na caçamba de um caminhão, ou podem ser transportados num carrinho de mão até o local do plantio com mais facilidade e em quantidades maiores, já que a aglomeração protege os torrões e as mudas.
PLANTIO DE MUDAS:
As dicas abaixo são do processo, passo-à-passo para o plantio de mudas.
ROÇAR:
É importante roçar todo o capim na extensão do plantio o mais baixo possível e com a maior freqüência possível. Deve-se roçar apenas o capim (gramíneas), evitando eliminar qualquer outro tipo de vegetação. Se o capim estiver muito alto pode ser necessário o uso de uma foice, e depois prosseguir com uma roçadeira à gasolina, mantendo o capim o mais baixo possível. Isso evita a propagação do fogo e facilita a circulação das pessoas. Todas as pedras encontradas devem ser separadas e retiradas da área do plantio para que a lâmina da roçadeira não bata nelas, podendo machucar alguém ou danificar o equipamento. é fundamental que o operador da roçadeira use equipamento de proteção, como botas, caneleiras, luvas, óculos de segurança e protetor de ouvido. Investir numa boa roçadeira à gasolina é importante; existem modelos de qualidade produzidos pela Stihl, Makita e Husqvarna. O projeto Mil Folhas possui duas roçadeiras Husqvarna 142R que são robustas e confiáveis.
ESPAÇAMENTO ENTRE AS MUDAS:
É extremamente importante que o espaçamento entre as mudas seja bastante próximo. A distância entre uma muda e outra, pode variar entre 1.5 m e 2.5 m, mas o ideal é 1.5 m. O adensamento entre as mudas acelera o processo de sombreamento e todo o processo de crescimento da floresta. Quando o espaçamento é pequeno, as folhas das mudas rapidamente se encontram umas com as outras e começam a disputa pela luz do sol bastante cedo, acelerando o crescimento de todas as árvores e o sombreamento do capim. Portanto é fundamental que as mudas sejam plantadas com o espaçamento muito pequeno. Pode parecer um desperdício, mas estudos extensos do saudoso Prof. Paulo Kageyama, que plantava cerca de 3,5 milhões de árvores tropicais de muitas espécies diferentes a cada ano, provaram ser decisivo que, quando as mudas são plantadas muito próximas umas das outras, a chance de sobrevivência aumenta significativamente, e a floresta inteira cresce, como um todo, muito mais rápido. Além disso, por outro lado, isso reduz a quantidade de capina, pois o sombreamento começa mais cedo, facilitando o trabalho e reduzindo os gastos.
COROAR:
Coroar em volta das mudas é vital, para que o capim não atrapalhe o crescimento das mudas e também para proteger as plantas do fogo. Com uma boa enxada, é preciso eliminar o capim e qualquer outro tipo de planta no diâmetro de um metro em volta da muda. Ou seja, é preciso que haja um círculo completamente limpo, e capinado em volta de cada muda. Em caso de incêndio, o capim baixo e o coroamento protege as mudas, evitando que o calor das chamas desidrate, e mate as plantas. Além disso o coroamento evita que capim abafe as plantas, roubando os nutrientes aplicados durante a adubação de superfície.
ABRIR COVAS:
A primeira coisa a fazer é o coroamento no diâmetro de 1 m. As Covas devem ser abertas no centro da área coroada, e ter o volume entre 10 e 15 litros aproximadamente, ou o volume de um balde grande. Elas podem ser abertas com uma cavadeira de mão, enxadão ou trado médio, e todas as pedras encontradas na cova, assim como raízes ou quaisquer outros detritos devem ser retirados
São muitas as maneiras de fertilizar mudas para um reflorestamento. Existe um consenso que as mudas, enquanto estiverem em saquinhos ou tubete não devem ser muito bem fertilizadas ou paparicadas, para elas não estranharem quando forem plantadas no chão. As mudas também devem ir para o sol relativamente cedo, para 'endurecer', e acostumar logo com as condições difíceis do campo não devendo permanecer muito tempo nos saquinhos para as raízes não crescerem demais, e eventualmente penetrarem no solo e serem arrancadas o que provoca um trauma na planta.
Existem dois tipos de fertilização: Adubação de Cova, antes do plantio e Adubação de Cobertura, depois do plantio em volta da muda. Idealmente, algum tipo de adubação orgânica deve ser usado nas covas para o plantio. No Projeto Mil Folhas, não é usado o Calcário por diversas razões, uma delas porque existe uma teoria que a Mata Atlântica é caracteristicamente um pouco ácida, e não necessita muito de equilíbrio alcalino.
SUBSTRATO:
Se houver disponibilidade terra preta, húmus de minhoca, esterco, ou qualquer outro tipo de substrato orgânico/biológico pode-se usar à vontade misturados a terra retirada da cova A cova aberta pode ser preenchida com a compostura, parte da terra, e com o adubo químico (veja abaixo), misturado manualmente ao substrato orgânico dentro da cova. Depois da muda plantada, a sobra do solo retirado da cova pode espalhado em volta da área coroada.
ADUBOS ORGÂNICOS:
Existem muitas formas de se adubar ou fertilizar mudas de árvores para um projeto de reflorestamento. Pode-se usar adubos orgânicos que são esterco de vaca, coelho, cavalo, humos de minhoca, cama de cavalo (palha misturada com esterco usada nos estábulos) e/ou terra vegetal que pode ser colhida de uma composteira. Só não se deve usar esterco de galinha. é importante lembrar que as folhas secas varridas de um jardim jamais devem ser queimadas (nada deve ser queimado na Mata Atlântica), e sim depositadas em um lugar sombreado e úmido. Em poucas semanas pode-se recuperar a chamada terra vegetal ou terra preta, excelente, e muito rica em nutrientes para plantas.
Existe uma opção de adubo orgânico excelente que tem dado ótimos resultados chamado Concinal, feito de algas marinhas que pode ser misturado aos adubos químicos. O Concinal, produzido pela empresa Algarea é mais barato que qualquer outro adubo e tem dado excelentes resultados. https://b2brazil.com/hotsite/algarea
MINHOCÁRIO (UMA TÉCNICA REVOLUCIONÁRIA):
A alguns anos o excelente húmus de minhoca virou uma febre, mas era um produto caro e difícil de produzir porque as minhocas tinham que ser peneiradas. A minhoca vermelha da Califórnia, é uma criatura trabalhadeira e disciplinada, e até bonita se vista com bons olhos. O procedimento para dar início a uma criação de minhocas é extremamente simples. Procure um produtor e compre uma matriz, que nada mais é do que uns 10 quilos de esterco com uma superpopulação de minhocas vermelhas da Califórnia famintas. Só compre as vermelhas, porque as brasileiras são muito boas mas indisciplinadas e fujonas... Adquira então dois ou mais anéis de cimento para poços artesianos, e coloque-os lado a lado numa área sombreada, de preferência onde se possa chegar com uma mangueira de água. Apenas coloque os anéis de cimento sobre a terra e encha com esterco de vaca, nem muito fresco nem muito seco, e deposite uma parte da matriz em cada anel em cima do esterco. O primeiro estágio é mais demorado, até que as minhocas se alimentem, se reproduzam e comecem a produção do húmus de fato. Deve-se manter o minhocário úmido, mas não encharcado, e deve-se cobrir a boca dos anéis com uma tela ou pedaço de sombrite para não virar restaurante de passarinhos. Em mais ou menos 40 dias, o nível do esterco cairá próximo a 50%, quando o material se transformará num produto escuro, inodoro e muito rico em nutrientes para plantas; o húmus de minhoca. Normalmente, para separar o humos das minhocas, as pessoas peneiravam as minhocas, um trabalho extremamente chato e com alto índice de mortalidade das minhocas, o que levou muitos produtores a aposentadoria precoce. Porém, o escritor que aqui vos fala, desenvolveu uma técnica supimpa, em que as próprias minhocas se auto peneiram voluntariamente, e com uma disciplina militar.
A EPIFANIA:
Uma vez que os anéis de cimento estejam cheios de húmus, e superlotados de minhocas, o próximo passo é introduzir mais esterco de vaca para evitar que as minhocas fujam para outras pastagens. Como todos nós sabemos que a minhoca é essencialmente um animal subterrâneo, é pelo fundo dos anéis que elas escapam, e não é ruim para o seu jardim que algumas fujam, é sempre bom lembrar. O procedimento então é introduzir vários sacos de aniagem, aqueles feitos de fibra de plástico, cheios de esterco de vaca em volta dos anéis lotados de minhoca. O que acontece nas semanas seguintes é um pequeno milagre na domesticação dos anelídeos. As minhocas são atraídas para o esterco de vaca pelo cheiro, e todas, com raras exceções, migram para os sacos de aniagem com esterco pelo solo, entrando no fundo nos sacos por entre as fibras do plástico. Mas se ainda houverem algumas preguiçosas nos sacos leve elas para o lugar do plantio com certeza, e solte elas! Nesse período é bom manter o solo e o esterco úmidos, para facilitar a romaria. Verifique o humos nos anéis, e quando ele estiver com poucas minhocas retire o material pronto para o uso, e introduza o conteúdo de alguns dos sacos, já com as minhocas, de volta nos anéis. Quanto mais o tempo passar, e quanto mais sacos de aniagem com esterco de vaca forem introduzidos, maior será o seu minhocário, até chegar a um ponto em que as minhocas migrarão de um saco de aniagem para o outro e o esforço de produção será mínimo, porque os primeiros sacos terão apenas o húmus e quase nenhuma minhoca. Elimina-se assim o chatíssimo processo de peneirar das minhocas.
ADUBOS QUÍMICOS:
São muitas as opções de adubos químicos encontrados no mercado, o mais comum sendo o NPK:
N = Nitrogênio p/ FOLHAS
P = Fósforo p/ RAIZ
K = Potássio p/ FLORAÇÃO e FRUTIFICAÇÃO
Os números, estabelecem a quantidade de cada elemento na mesma ordem das letras ou seja, N/P/K. Durante o plantio, é importante usar uma fórmula de NPK com mais Fósforo (P) nas covas, como o 4/14/8, e, até 6/30/6 em casos mais radicais. Algum tempo depois, quando queremos dar força as folhas, podemos usar mais Nitrogênio (N), e Potássio (K) nas adubações por cobertura, como o 10/10/10 ou até o 15/2/10, e para uma adubação de cobertura mais severa o 20/0/10 é excelente.
Existem muitos adubos químicos úteis e fáceis de usar, como o Yoorin http://www.yoorin.com.br, muito rico em Fósforo, mas com pouca acidez (comparado com o Superfosfato de Rocha que é muito ácido), e portanto muito rico em cálcio e micro-nutrientes, devendo ser usado sempre em adubações por cobertura. A combinação do Yoorin com NPK é uma forma eficiente e objetiva para fazer fertilização de cova, nos plantios ou adubação por cobertura, após o plantio. Outros produtos muito concentrados e ricos em Nitrogênio como o Polyblend também são encontrados no mercado. Pode-se também consultar um agrônomo da EMATER para indicar e orientar na adubação química.
ADUBAÇÃO DE COVA:
Depois da área totalmente roçada, e com as covas abertas e coroadas, cada cova pode receber dois a quatro kg de material orgânico, de preferência uma mistura de esterco e terra vegetal. Se houver muita disponibilidade de adubos orgânicos pode-se usar até 10 kg, mas deve-se sempre misturar a parte da terra retirada da cova. Já dentro da cova, adicionando de 90 g a 100 g (apenas um punhado, e não mais!) da combinação de adubos químicos. Esse punhado deve ser misturado manualmente ao adubo orgânico e completado até encher a boca da cova com a terra retirada da cova bem misturado.
2 Partes de Yoorin (60 g)
1 Parte de NPK, 4/14/8 granulado (40g)
1 Parte de Concinal (40g)
Pode-se misturar o adubo químico e Concinal em quantidades grandes de uma só vez, por exemplo: 100 kg de Yoorin para 50 Kg. NPK 4/14/8 granulado e 50 kg de Concinal. Lembrando que essa quantidade de 200 kg é suficiente para a fertilização de pelo menos 2.000 mudas. Nunca exagere na dosagem dos adubos químicos para adubação de cova. Os 120 gramas por cova (um punhado), são mais do que suficientes; mais que isso não fará a muda crescer mais rápido e sim morrer mais rápido. O adubo orgânico, por um outro lado, pode ser usado em generosas quantidades.
O PLANTIO:
As vezes, a parte mais difícil é levar as mudas dos viveiros para a área do plantio. Por isso, é bom que as mudas não sejam muito grandes, com um ano ou menos, e entre 25 cm e 50 cm de altura. Abra um pequeno buraco no tamanho do torrão (com as raízes da muda) na terra já fertilizada da cova, retire a muda do saquinho com cuidado, e deposite o torrão na cova, apertando bem a terra em volta do torrão com as raízes, mantendo a planta bem aprumada. Evite enterrar a haste da muda, ou seja, não enterre a raiz da planta muito fundo na cova, com os primeiros 3 a 5 cm da haste da muda. De preferência deixe a terra na boca da cova ligeiramente concava, a chamada bacia de captação, que ajuda na absorção de água durante as chuvas. Em encostas íngremes, a boca da cova deve ser o mais horizontal possível, para poder absorver a água da chuva com eficiência.
Identifique as Pioneiras, as Secundárias Iniciais, e plante elas intercaladas entre as secundárias Tardias, para que elas possam sombrear melhor. é importante espalhar as Leguminosae para que elas possam beneficiar as não Leguminosae com seu poder de fixar o Nitrogênio no solo. Quanto as Clímaxicas, algumas podem ser plantadas no começo, mas, idealmente, devem ser plantadas quando já houver uma condição de sombreamento pleno, alguns anos após o primeiro plantio. Portanto, não se preocupe com as Clímaxicas, invista nas Leguminosae Pioneiras e Secundárias Iniciais, para estabelecer uma condição de Sombreamento o mais rapidamente possível. As Climáxicas são o luxo no fim do processo.
Se estiver na região Sudeste, faça o plantio nos meses chuvosos de verão (de Setembro a Março), e escolha os dias nublados e frescos para plantar, de preferência dias chuvosos ou quando souber que vai chover logo depois (antes da chegada de uma frente fria, por exemplo, o que ajuda muito na sobrevivência das mudas. Fique atento a previsão do tempo http://br.weather.com/weather/local/BRXX0201 ou http://www.bbc.co.uk/weather/3451190 Durante os primeiros dias após o plantio a água é um fator da maior importância que não deve ser ignorado. É importante que as mudas sejam molhadas com frequencia durante esse período, de preferência pela chuva, mas caso haja uma seca inesperada, pode-se molhar com uma bomba d'agua, ou com regadores. De qualquer forma, deve-se molhar as mudas pelo menos duas vezes por semana nos primeiros vinte dias após o plantio se não chover. Uma boa técnica é conseguir alguns latões de metal para 200 ou 400 litros vazios (e sem furos), coloca-los espalhados perto das mudas, enche-los com água de uma bomba, depois, pode-se usar um regador de mão, ou balde para molhar as mudas recém plantadas.
Para plantio nos meses mais secos, existe um produto chamado Stocksorb - comprado na Degusa em SP (11) 3146-4161 chamado de GEL que é depositado no fundo da cova, e então coloca-se 1 litro de água (se não houver chuvas) e essa muda fica provida de água por um mês. O produto é caro mas ele garante um ótimo desenvolvimento das mudas em épocas de seca.
ESTACAS:
Se houver um bambual por perto ou varetas de madeira disponíveis, é sempre bom colocar uma ou duas estacas com mais ou menos 1 metro de comprimento enterradas firmemente no solo de 10 a 20 cm de distância do caule das mudas com uma fita amarrada em “8” presa as estacas, ancorando a muda. Quando a muda é presa, ela fica protegida de ventos fortes, e não ‘deita’ e a estaca também facilita a visualização da muda durante os trabalhos em campo. Porém, nem sempre se pode usar as estacas, como é o ideal, mas elas podem sobreviver sem problemas sem as estacas.
COBERTURA MORTA:
Após o plantio, deve-se fazer a chamada cobertura morta em volta os caules das mudas, espalhando folhas úmidas ou semi-decompostas sobre a terra em cima da cova bem em volta das mudas, o que protege as raízes de insolação e desidratação nos dias mais quentes e secos. Durante o período de manutenção, quando a coroamento for capinado e o capim roçado, as folhas do capim devem ser usadas em volta das mudas como cobertura morta. A cobertura morta também é fonte de alguns nutrientes para a planta quando entra em decomposição.
MANUTENÇÃO DE MUDAS NO PLANTIO::
Após o plantio, a manutenção é vital nos primeiros anos para o sucesso do reflorestamento. Se houver crescimento de capim, é preciso que sejam feitas "roçadas", até que as Pioneiras/Sombreadoras consigam abafar e eliminar esse capim. é preciso fazer e re-fazer o coroamento para que plantas nocivas não interfiram com o crescimento das mudas, e é preciso fazer adubações por cobertura em todas as mudas, espalhando os fertilizantes em volta do caule de cada planta de preferência em dias frescos e chuvosos. é natural que algumas mudas não sobrevivam, nesse caso elas devem ser substituídas por outras mudas. Se houver formigas atacando algumas plantas (em geral elas escolhem por espécie, dependendo do lugar), é importantíssimo combater essas formigas cortadeiras (veja abaixo), assim como é fundamental proteger o plantio do risco de incêndios e queimadas.
ADUBAÇÃO DE COBERTURA:
Um mês depois do plantio, a primeira Adubação por Cobertura pode ser feita. Essa adubação é muito importante, fácil de fazer e deve ser repetida duas ou três vezes por ano. Para a região Sudeste, no começo do verão em Outubro, no meio do verão em Janeiro, e, se houver incidência de chuvas, em Abril ou Maio.
A medida abaixo é por cada muda:
2 partes de Yoorin (60g)
1 parte de NPK 20/0/10 (40g)
1 Parte de Concinal (40g)
Assim como na adubação química de cova, pode-se misturar quantidades grandes ou seja, 2 partes (100 kg) de Yoorin, 1 parte (50 kg) NPK 20/0/10 e 1 parte (50 kg) Concinal, ou, 200 kg. Lembrando que essa quantidade de 200 kg é suficiente para a fertilização de pelo menos 2.000 mudas, e a quantidade da mistura usada por planta é a mesma de 120 g no máximo. O NPK 10/10/10 é uma boa formula para adubação por cobertura, mais o 20/0/10 pode ser mais indicado se o solo for muito fraco, lembrando que com a combinação de NPK e Yoorin, o Fosfato está mais do que provido pelo Yoorin, assim sendo não é preciso adicionar mais com o NPK, e sim aumentar a quantidade de Notrogênio de 10 para 20 com o 20/0/10.
Mais uma vez, um bom punhado, 100 a 120 gramas por muda (não exagere...) distribuídos e espalhados uniformemente com a mão em torno do caule de cada muda sobre a área coroada na distância de um palmo a um palmo e meio do caule da planta. Leve a mistura em baldes, e aplique manualmente. Essa fertilização por cobertura também deve ser feita em dias úmidos ou chuvosos, quando a previsão do tempo para os próximos dias for de chuva. Se houver a cobertura morta na área coroada, remova o material orgânico, adicione o adubo químico diretamente sobre a terra, e cubra novamente em volta das mudas com as folhas da cobertura morta.
FORMIGAS CORTADEIRAS:
Quando reduzimos o capim, e plantamos mudas de árvores, a tendência é que formigas cortadeiras ataquem as folhas das mudas na primavera (Setembro, Outubro e Novembro no SE) o que pode ser muito prejudicial ao plantio. Deve-se então combater essas formigas usando qualquer defensor como Isca formicida: Attamex-s ou Mirex, Formicida em pó: k K-olthrine, MIPS - Dinagro. Consulte um agrônomo em qualquer loja de plantas para saber a melhor forma de combater as formigas. Essas iscas devem permanecer secas até que as formigas levem elas. Existem embalagens de plástico que armazenam a isca e permitem que as formigas entram e saiam com as iscas, protegendo o produto da chuva, e umidade que arruína suas propriedades. Um bom produto que usamos é um porta iscas da MEC-Plant que funciona perfeitamente: https://mecplant.com.br/produto/porta-iscas/. Pode-se também usar uma garrafa PET vazia com furos, e colocar a isca dentro. O importante é isca não molhar enquanto estiver no campo.
REMOÇÃO DE PARASITAS:
Uma vez que as plantas cresçam o suficiente para sombrear o solo e abafar o capim, a floresta em si começa a se tornar independente. Não é necessário fazer qualquer tipo de poda nas plantas, e a única situação que requer o uso de serras ou podões é na remoção de plantas parasitas como a Erva-de-passarinho que se enrola nos galhos das árvores e podem ficar grandes e pesadas se não forem removidas. Esses parasitas devem ser combatidos a todo custo, porque quanto mais se fizerem presentes numa área, mais se multiplicarão por toda a região com a dispersão de suas sementes por pássaros e morcegos, podendo facilmente matar as mudas pequenas, ou até árvores de tamanho médio se não forem removidas, e quão menor elas forem, menos dano será causado nas mudas durante a remoção, porque ela se prende com força nos pequenos galhos.
Qualquer tipo de planta que se enrole no caule ou nos galhos das mudas deve ser removida, principalmente nos primeiros anos de um plantio. É importante saber identificar parasitas como a Erva-de-passarinho, o que não é difícil, pois ela é muito diferente das outras plantas, com um verde mais escuro e brilhante nas folhas. Quando localizada, essa planta deve ser removida por completo, usando um podão de haste, ou uma serra de haste se ela estiver fora de alcance, e mesmo que alguns galhos das mudas sejam sacrificados no processo, jamais deixe essa etapa de lado. Esse trabalho fica mais fácil nos meses de inverno, porque quando algumas árvores perdem suas folhas a Erva-de-passarinho fica muito mais fácil de ser localizada. Faça sempre inspeções, principalmente nos meses de inverno, e seja dedicado na remoção dessas plantas daninhas o máximo que puder. E uma vez removidas, não as deixe no solo, mas recolha todas elas em sacos plásticos bem embrulhados, e deixe o lixeiro levar para bem longe.
Há um besouro conhecido como Serra-pau que é dificílimo de localizar na mata, mas ele serra em volta dos galhos na primavera, depositando seus ovos na parte que cai no chão. Esses galhos são fáceis de identificar porque eles tem um corte preciso e circular, limpo e não quebrado ou lascado. Cada um desses galhos deve ser prontamente removido do local do plantio, serrado em pedaços menores e também ensacados para serem levados para bem longe pelo serviço de limpeza. Muita gente queima tanto a Erva-de-passarinho quanto os galhos cortados pelo besouro Serra-pau, mas isso fica ao critério de cada um.
FOGO!:
O fogo é talvez o maior de todos os perigos principalmente nos meses mais secos de inverno, entre Junho e Setembro no Sudeste. Não permita que se façam "queimadas" próximas da área de plantio e procure conscientizar a população local sobre os perigos de fogo para o reflorestamento. Se essa área for próxima a uma estrada, o perigo também é grande por causa de pontas de cigarro atiradas de automóveis. Uma solução é fazer Aceiros, que dão um certo trabalho, mas são muito eficazes como barreiras contra o fogo. Os Aceiros são extensões de três a cinco metros de largura completamente capinados e livres de qualquer vegetação, dividindo as áreas de onde pode vir o fogo do local de plantio. Uma outra alternativa interessante, é plantar os chamados “aceiros verdes”, plantas muito verdes e úmidas, muitas vezes Leguminosae que fazem uma barreira à prova de fogo protegendo as mudas. A combinação de aceiros capinados e aceiros verdes é a ideal. Na maioria das vezes, o fogo no capim queima as mudas de árvores pequenas. Se a área do replantio estiver com o capim sempre roçado muito baixo e as mudas bem coroadas, o risco do fogo danificar as mudas fica muito reduzido.
Treinar uma brigada de incêndio com pessoas da comunidade, é uma excelente ideia, inclusive porque essa brigada também pode ajudar no combate a focos de incêndio em outras áreas. Aprenda como manufaturar abafadores de fogo feitos com placas de borracha e hastes de madeira ou alumínio (cada pessoa tem o seu, com o peso e tamanho ideal) e uma Enxada/Ancinho, ferramenta que tem ambas as características, usada para rapidamente remover folhas secas para outra pessoa usar o abafador e apagar o fogo. Procure o IEF (Instituto Estadual de Florestas) na sua área para saber mais sobre como treinar e equipar brigadas de incêndio florestal. Esse é um tópico importantíssimo e complexo que não pode ser abordado inteiramente nesse texto, mas deve ser estudado e considerado muito seriamente, pois um fogo descontrolado facilmente destrói o trabalho de muitos anos.
PLANTE A SUA FLORESTA:
Essas dicas são orientações para ajudar qualquer pessoa reflorestar áreas em terrenos desmatados, e identificar algumas das espécies nativas da Mata Atlântica, mostrando o caminho das pedras à partir de um projeto, o Mil Folhas, que depois de muita pesquisa e esforço está dando bons resultados. As sugestões acima foram elaboradas informalmente, e organizadas de uma forma que pessoas sem formação científica, como nós não agrônomos, possam se aventurar numa das empreitadas mais especiais e importantes de uma vida; plantar não somente uma árvore, mas uma floresta inteira e assim prover um berço para várias espécies de plantas e animais na natureza, e ao mesmo tempo preservar dois bens da maior importância para toda a vida no planeta: A água e o ar.
Chico Bicalho: chicobic@gmail.com / 55-21-2556-3250 / 55-21-97950-9751
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